|
Post by Bárbara Menezes on Aug 27, 2012 13:23:27 GMT -3
Eu sou contra a domesticação em alguns casos. E não em outros.
Os livros são importantíssimos para conhecermos outras culturas, outros costumes e outros tempos. Não é manter as características originais que vai prejudicar a tradução. O que prejudica a tradução é um texto final mal escrito, que não flui.
No entanto, como trabalho bastante com livros infantis (bem infantis), sei que, às vezes, temos que fazer o esforço de trazer para o "jeito brasileiro" um livro que foi escrito em outro idioma. Mas são casos muito específicos e raros. Só para crianças muito pequenas. Depois de certa idade, o contato com o "estranho" só pode trazer benefícios.
Afinal, é isso que o trabalho de tradução proporciona: o acesso ao distante, ao diferente.
Em tempo: o trabalho acadêmico citado pela Karla parece bem interessante. E ele cita um texto de Walter Benjamin que parece "fundamental" para os estudos da tradução literária, ainda que seja curto: A tarefa do tradutor. Pode ser interessante para a nossa próxima discussão!
|
|
|
Post by Patricia Moura e Souza on Aug 27, 2012 13:27:40 GMT -3
Obrigada pela sugestão, Bárbara, vou ver se encontro esse texto.
|
|
|
Post by Patricia Moura e Souza on Aug 27, 2012 22:37:45 GMT -3
Seguindo a sugestão da Denise, de procurar materiais com licença do Creative Commons (para uso não comercial), encontrei justamente a sugestão da Bárbara, do Benjamin ("A tarefa do tradutor"), dentro de um livro chamado Translation Studies, disponível aqui: xa.yimg.com/kq/groups/19493185/382697959/name/venuti-translation+studies,+reader.pdf. Fica a dica, quem sabe pra próxima leitura, se houver quorum para um texto em inglês.
|
|
|
Post by Bárbara Menezes on Aug 28, 2012 13:32:00 GMT -3
|
|
|
Post by Patricia Moura e Souza on Sept 3, 2012 2:12:16 GMT -3
Bárbara, desculpe a demora na resposta. Não sei como descobrir de tal material está ou não liberado. O que eu encontrei, em inglês, foi fazendo a busca através do site do Creative Commons, então ele busca no google já com esse filtro ativado. Mas deve ser possível descobrir, vamos ver.
|
|
|
Post by Patricia Moura e Souza on Sept 3, 2012 2:14:44 GMT -3
Colegas,
Acabo de ler de novo o texto do Paulo Henriques Britto e os posts desta discussão. Anotei alguns pontos que me interessaram, mais da primeira metade do texto, que mal foi mencionada. Também seria legal continuarmos debatendo algumas questões já levantadas. Acho que talvez seja legal usar o “assunto” do post para identificar a questão a ser discutida, assim cada um pode acompanhar o ângulo que mais lhe interessa, sem a gente ter que falar, necessariamente, de tudo-junto-misturado.
O tradutor e sua obra Gostei bastante do relato que ele faz do momento em que descobriu que o tradutor tinha direito e algum tipo de poder sobre o produto de seu trabalho, quando lhe pedem, pela primeira vez, que aprove a revisão. Provoca uma reflexão sobre o modo como cada um vê o resultado do próprio trabalho. Isso tem bastante a ver com a questão de direitos do tradutor sobre sua obra, que foi destacada pela Adriana Faria e pela Luciana Chagas.
Quanto a isso, como tradutora “comercial” (podemos convencionar chamar assim a não editorial?), digo que muito me tenta uma proposta lançada por aí, não sei se pelo Danilo Nogueira ou por quem, de sempre assinar todas as traduções. Powerpoint de RH, abstract de tese, material de website, manual de telefone sem fio, o que for, sempre acrescentar lá no finalzinho meus próprios créditos.
Até ficaria por conta do cliente deixar ou apagar, mas pelo menos estaria lá, meu nome colocado no final do meu trabalho. Acho que isso até ajudaria na visibilidade da profissão, mesmo que de modo sutil, ao tornar a figura do tradutor mais presente na cabeça dos consumidores de tradução. Sem contar no duplo benefício, para tradutor e cliente. O cliente tem uma espécie de garantia de qualidade (porque ninguém seria bobo de botar o nome em um serviço mal feito) e o tradutor divulga seu nome e seu trabalho. Alguém já pensou nisso? Alguém faz isso regularmente?
A produtividade e as ferramentas de trabalho Desafio: sem ler de novo, alguém percebeu dois errinhos de edição no texto? Eu não tinha visto da primeira vez que li, mas agora sim. E isso disparou uma série de perguntas na minha cabeça. Quantas pessoas podem ter lido esse texto antes da publicação? Quantas leituras podem ter feito cada uma delas? Que mecanismos cerebrais podem fazer um revisor (ou um autor, ou tradutor, fazendo uma revisão do próprio trabalho) se deixar enganar pelos olhos e não registrar uma palavra fora de lugar? Como é enganoso um corretor ortográfico, porque o que o corretor não pega (“cala”em vez de “calha”, por exemplo) é também o tipo de erro que o olho humano tem menor chance de pegar (é bem mais fácil perceber “cahla”). Quando é mais fácil a gente perceber um erro: na primeira leitura, em que há maior atenção porque o material é desconhecido, mas ao mesmo tempo o foco pode estar mais no sentido do que na forma? Ou em uma releitura, quando o olho pode estar mais atento a detalhes por já conhecer o conteúdo, mas o cérebro preenche mais lacunas sozinho, justamente por conhecer o conteúdo? Ou será que depende – do leitor, do material, das circunstâncias?
A partir disso, e em relação estreita com o tema central da primeira parte do artigo, pergunto a vocês: até que ponto a agilidade do processo – a rapidez com que escrevemos e editamos no computador e, mais ainda, a imediatez ideia–texto proporcionada por um software de reconhecimento de voz –, até que ponto tanta velocidade é benéfica para o resultado do nosso trabalho? Não haverá maiores chances de incorrermos em uma tradução automatizada, literal demais, ou em puro tradutês, quando produzimos tantas palavras traduzidas por minuto? Temos consciência disso? O que fazemos para paliar os efeitos da tradução desembestada?
Leitor, leigo e a valorização do tradutor Luciana, não sei se entendi o seu primeiro post, acho que não vejo a contradição. Pelo que entendi, no texto ele diz que algumas editoras sérias valorizam o tradutor, mas isso em contraposição à maioria das demais casas, que segundo ele não ligam muito para a qualidade da tradução. Era sobre isso que você estava falando, ou perdi o fio da meada?
Invisibilidade, transparência, anonimato Abdalan, você falou a respeito de a invisibilidade desejável ser um paradoxo. Você se refere a um paradoxo “superficial”, talvez no nome das coisas (“não aparecer requer mais esforço do que aparecer”), isto é, um paradoxo do ponto de vista do leigo? Porque, como tradutora, não vejo contradição aparente no fato de ser muito mais difícil traduzir com transparência, assim como é muito mais difícil fazer uma sutura que desapareça na pele. Se você tiver se referido a um paradoxo que não estou percebendo, você poderia desenvolver um pouco mais o comentário?
Adaptação, domesticação A Ana mencionou a questão da adaptação de obras para o contexto de outras línguas, que depois a Karla Santanna e a Bárbara retomaram; é uma discussão que também pode ser interessante para quem trabalha com literária. (Porque acho que no caso das traduções comerciais a adaptação é mais necessária, embora poderíamos debater se, ao traduzir um manual interno para funcionários de uma multinacional, seria melhor deixar os exemplos como Bill e Kelly ou rebatizá-los como Eduardo e Mariana.)
Bom, acho que vou encerrar o domingo, que a segunda já começou há mais de duas horas.
Boa semana!
|
|
|
Post by christianens on Sept 4, 2012 11:05:23 GMT -3
Continuando a conversa... a parte onde o Britto faz a explanação sobre a "evolução" do trabalho do tradutor, a partir do uso do computador e internet e, posteriormente, CATs, realmente é interessante. Nós que "nascemos" no mundo com CAT muitas vezes esquecemos que houve uma época em que não era assim, em que o trabalho todo era mais "manual, artesanal", ou seja, até concordo com a Patricia que aí a tradução saía mais limada, aperfeiçoada, simplesmente porque o tradutor passava mais tempo com ela. Aí pergunto: será que hoje os revisores então tem mais trabalho? A revisão ficou mais exigente, difícil, demorada? Já que com as CATs o tradutor cospe uma tradução atrás da outra, em velocidade cada vez maior, a qualidade deve ter despencado...com a palavra, os revisores! Outro aspecto abordado pelo Britto, e de suma relevância, é a questão da "escravidão" do tradutor, que, podendo fazer mais em menos tempo, não ganha a mais por isso, pelo contrário, o mercado passa a exigir simplesmente cada vez mais produção! (em detrimento da qualidade??) E aqui quero lembrar que isso não é privilégio dos tradutores, essas exigências absurdas do mercado moderno atingem praticamente todas as profissões, fazer mais em menos tempo é solicitado a todos, em nome da modernidade e do Sr. Mercado. E os ganhos são os mesmos, em todos os setores, ou seja, não há incremento.
|
|
|
Post by santanna on Sept 8, 2012 0:33:11 GMT -3
Falha da plataforma: ñ tem o "cutucar", e tem os losanguinhos infames; será hackerismo?
Bem, caramba, são muitos os assuntos, não? Ótimas contribuições. A PatrÃcia sumarizou bem, em todos relendo as 2 pagininhas poderiam retomar suas dúvidas, se não sanadas, quem sabe responder outras, há várias em aberto, interessantes. Daà se partiria avante...
Da excelente monografia de Ernesta Ganzo, me vem que tradução "não autoral; não editorial" seria dita "técnica".
A domesticação me parece em grande parte uma imposição mercadológica, uma adaptação "facilitativa" dirigida ao grande público. Um fenômeno semelhante ao da indústria cultural pós ascensão dos "belongers' brasileiros, mantidas as proporções. Realmente, dependendo do meio - como no caso da T técnica e/ou comercial, ou literatura infantil, é adequada, plenamente aceitável, recomendável. Mas lembro, pré-adolescente, do fascÃnio pelas palavras diferentes, pelo inusitado, novo -- para mim, ainda que fosse português já então arcaico, como no caso dos clássicos. Isso não deveria ser subtraÃdo à s pessoas, essa possibilidade de acesso ao diferente, o cultivo da curiosidade intelectual, versus o cultivo do banal, trivial, comum.
Os 2 textos s/ invisibilidade (PT) recomendados pelo Abdalan: Jóias; o de Ivone é fantástico, conclama à revisão de conceituação equivocada e eslcarece os tintins de: invisiblidade?, não, anonimato sim, numa prosa ótima, fluida, como no de Denise, igualmente esclarecedor. Venutti de antemão me pareceu que levaria mais tempo, seria mais abstrato, puro pré-conceito, talvez. Chego lá.
Tenho um teaser, aqui ó: " A existência de dificuldades no ato tradutório e o conjunto de soluções apresentadas por tradutores para superá-las têm sido, há muito, motivo de reflexões acerca da linguagem da tradução, destacando-se, entre os teóricos, as considerações de Baker (1993, 1995, 1996, 2000) a esse respeito. (apresentação de tema)." Dificuldades já são em si um bom assunto, mas onde estariam essas tantas soluções, senão, claro, o conjunto delas? Muito me interessa, o tal aspecto prático. Sob quaisquer prismas. E alguém, creio que Abdalan, havia relacionado uns tantos intens superinteressantes no FB.
A discussão sobre a rapidez - que eu diria frenesi - das imposições contemporâneas faz crer que, se a qualidade do ato artesão não se perdeu de vez, certamente a qualidade de vida de muitos foi para as cucuias, e não só tradutores. (O capitalismo pós neoliberalismo e crises remete a cão raivoso tentando morder o próprio rabo. O que se vê são multidões de pessoas exauridas, sobrecarregadas. Mas, por outro lado, não sei se pelo instinto de competição ou a própria noção de concorrência (ou ainda habilidades pessoais), os próprios tradutores, muitos deles craques, se submeteram a adicionar a suas tarefas já árduas um sem-número de funções de editoração -- que a quem trata de editoração deviam ser destinadas. Essa sobrecarga foi posta sobre os ombros de todos pelos próprios colegas, e o "Não" hoje propalado e badalado nas redes no que tange a valores de remuneração foi esquecido naquele quesito, ou naquele momento.) Não é assim? Compreendo que a resistência é difÃcil, muitas vezes o Tr se sente acuado, sozinho frente ao "poderoso" cliente, daà os prazos terem chegado ao extremo a que chegaram.
Epa, estendi demais o tópico. Paro. (Podem dizer se extrapolei na vontade de agregar, pls:)
Bom finde a todos.
Karla. (O google pagando 300/hora e a gente aqui...)
|
|