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Post by Patricia Moura e Souza on Aug 22, 2012 22:43:36 GMT -3
Outra vez eu aqui começando. Vocês vão ver, eu sou insistente.
Estava na página 9 e fiz a seguinte anotação: A percepção das pessoas em geral é que a tradução é uma coisa automática, que basta passar isto para aquilo, como se houvesse uma correspondência exata entre línguas. Talvez isso explique em parte a desvalorização da atividade pelos leigos. Pode ser difícil, para quem nunca tentou traduzir, imaginar quais as possíveis dificuldades de se transpor as ideias de uma língua para a outra.
Logo a seguir, ele fala sobre o desconhecimento da complexidade da tradução na prosa, mas para relacionar a invisibilidade do tradutor com a remuneração. É muito óbvio comentar a relação entre o fato de as pessoas em geral não conceberem o grau de dificuldade do nosso trabalho e a desvalorização da profissão de modo geral? Lembro o que o Danilo postou hoje no fb, sobre as intenções da FIFA de convocar intérpretes voluntários. Se alguém dentro da organização pudesse imaginar o grau de preparação, talento e habilidades necessários para se executar o trabalho de intérprete, acharia vantajoso chamar voluntários?
Para retomar o texto do PHB, será que quanto mais invisível for o tradutor, mais difícil se torna para o leigo dimensionar a importância de sua (nossa) tarefa?
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Post by Patricia Moura e Souza on Aug 22, 2012 22:44:37 GMT -3
Este não foi o ponto que mais me interessou no texto, depois falo mais.
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Post by christianens on Aug 23, 2012 9:01:11 GMT -3
Olha, eu confesso que só estava esperando alguém começar...primeiro a "profe" fala, né, depois é que os pupilos vão se manifestar.... Bom, li e gostei o texto, aliás, achei uma delícia de ler. Como eu não tive acesso, até o momento, a material mais acadêmico sobre a tradução, este texto ampliou meus horizontes e me auxiliou na auto-percepção de quem sou, sendo tradutor(a). Até pouco tempo eu mesma encarava a tradução como leiga e realmente, não se tem noção alguma! Mas isso não acontece apenas na tradução, muitas outras profissões/atividades são totalmente desconhecidas nos seus detalhes e dificuldades pela grande maioria. Acredito que realmente, o tradutor é invisível, porque o público comum, quando lê, pensa no autor, nunca no tradutor. Eu mesma, confesso, passei a conferir quem traduziu algum livro ou a prestar mais atenção em algumas falhas do texto, possivelmente advindos da tradução, só depois que me interei mais do universo tradutório. E aí entra outro ponto: infelizmente o tradutor é sempre mais lembrado, ou sua existência é evocada, quando se detecta algum erro, alguma falha na tradução, alguma gafe. Como bem colocou o Britto, o autor é considerado alguém soberano, quase divino, quem é passível de erro é o tradutor, jamais o autor. E então ficamos com aquela: Falem de mim, mesmo que negativamente, mas falem...ou vamos preferir ficar na obscuridão do esquecimento e da invisibilidade, levando o crédito da perfeição? Tradutor bom é tradutor invisível?
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Post by Patricia Moura e Souza on Aug 23, 2012 11:08:47 GMT -3
Ih, Christiane, lamento muito te decepcionar, mas eu não sou "profe" nada, sou a menina de óculos na primeira carteira tentando puxar o saco do professor, hahahaha!! (Sério: o motivo da criação do grupo foi meu total desconhecimento de qualquer estudo relacionado à tradução. Só tenho um pouco de experiência, mais nada mesmo!)
Acho que são dois olhares sobre uma mesma coisa. O leitor em geral não dá muito valor ao trabalho do tradutor porque não "percebe" esse trabalho. Se não percebe, na minha opinião, é porque está bem feito. Como o PHB diz, o único fim da tradução é permitir que o leitor tenha acesso a um texto em uma língua que não conhece. Transpor esse texto sem tropeços é o objetivo do tradutor. Se não houve tropeços, é "como se" o leitor estivesse lendo na língua original. (Mmmm... é?)
Às vezes me pergunto, porque tenho interesse nessa área da linguística, qual o papel da linguagem do pensamento na leitura -- e na realização -- de uma tradução. Sabe aquela sensação quando a gente empaca em uma frase, e não consegue encontrar uma estrutura legal na língua de chegada, e toca o telefone, ou vai no banheiro, e quando volta, antes de olhar pra tela, a tradução está na ponta dos dedos? Eu acho que isso acontece porque, quando a gente esquece a exata formação da frase, fica com o sentido em uma linguagem... não quero dizer universal pros anti-chomskianos não jogarem tomates, mas uma linguagem independente de língua específica. O sentido, por dizer de alguma forma. E o sentido a gente consegue traduzir mais facilmente, porque se desprende das palavras.
Imagino que isso seja muito mais complexo na tradução literária, porque nesse caso a forma conta muito mais do que em uma tradução "técnica", mas não posso opinar nesse campo. Mas fiquei pensando se uma boa tradução não seria aquela que permitisse uma "back translation" pra linguagem do pensamento, não para o original. Que permita que o leitor chegue o mais próximo possível do sentido, independente da forma. (Novamente, acho que isso só se aplica às traduções não literárias.)
Alguém me interrompe, senão não paro mais??
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Post by Luciana Chagas on Aug 23, 2012 11:10:39 GMT -3
Sabem o que é interessante? O comentário que ele faz sobre o fator boa tradução/boa vendagem (p. 8). Se partirmos da noção de que boa tradução tem a ver com invisibilidade, isso seria mais um argumento para que a invisibilidade estivesse atrelada a melhores remunerações, não?
Britto afirma: “percebe-se em algumas editoras mais sérias um esforço no sentido de atrair ou preservar tradutores cujo profissionalismo certamente contribui para uma boa recepção da obra junto ao público e à crítica”. A boa remuneração não entra na lista de recursos para atrair ou preservar esses profissionais?
Não sei se estou me fazendo entender, mas o trecho que trata de qualidade da tradução>vendas>reconhecimento pela editora me parece contraditório (novamente partindo da ideia – discutível, para alguns – de que invisibilidade tem a ver com qualidade) quando lemos a parte que lamenta o fato de o ocultamento do tradutor não estar ligado a melhor remuneração.
Será que estou “viajando”? Alguém pensou algo semelhante?
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Post by Luciana Chagas on Aug 23, 2012 11:24:14 GMT -3
Como sugestão p/ novos debates, já vou deixando registradas outras questões que me chamaram a atenção (todas se referem ao relacionamento com as editoras):
- Relação tradutor/revisor. Quem aqui consegue, efetivamente, comunicar-se com o revisor, discutir escolhas, coisa e tal? (esse ponto me interessa bastante, pois faço muitas revisões);
- Pagamento de direitos autorais com base no valor de capa/vendas X contrato de cessão de direitos. Quantos de nós recusamos uma tradução em razão da obrigatoriedade de assinatura do tal contrato?;
- “o tradutor deve afirmar-se no lugar que lhe cabe no livro: o aparato paratextual” – referência à ideia de Anthony Pym (p. 10). Há no grupo algum colega que, tendo traduzido obra literária, tenha sido convidado a redigir introdução, posfácio ou orelha? Em minha experiência, percebo que esses textos são, em geral, escritos por “figurões” da literatura ou gente "da moda" (i. e., cujos nomes vendem mais).
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Post by Abdalan da Gama on Aug 23, 2012 11:36:32 GMT -3
Há uma questão sobre a invisibilidade do tradutor que merece ser mencionada. A invisibilidade não pode ser confundida com anonimato, o que seria um "equívoco conceitual" (Ivone Benedetti), ou com tradução sem marca pessoal, ou seja, uma confusão entre "tradutor como sujeito empírico e a obra de tradução em sua materialidade" (Denise Bottmann). Norman Shapiro considera a tradução como a tentativa de produzir um texto transparente ao ponto de não parecer que tenha sido traduzido. Para ele, uma boa tradução pode ser comparada a uma vidraça; só é possível perceber que ela está lá, quando há pequenas imperfeições, como arranhões ou bolhas. Ou seja, a tradução nunca deveria chamar atenção para si. Por esse prisma, a invisibilidade é desejável. Fica, entretanto, por definir o que é a “ausência de imperfeições”. Veja que a ilusão de invisibilidade é sentida em um texto fluente. (Falta de) Fluência é preocupação crucial dos tradutores (Veja Conversa com tradutores: balanços e perspectivas da tradução, 2003). O paradoxal da história toda é que quanto mais se tenta produzir o efeito da invisibilidade, maior deve ser a intervenção do tradutor. Assim, a capacidade de desaparecer exige mais energia do que o oposto. Recomendo: Anônimo ou invisível? Escriba ou autor? (Ivone Benedetti) ...marca pessoal e invisibilidade (Denise Bottmann) The Translator's Invisibility: A History of Translation (Lawrence Venuti)
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Post by Bárbara Menezes on Aug 23, 2012 12:21:48 GMT -3
Voltando um pouquinho ao assunto do primeiro post da Patrícia, eu percebo sim que existe muito desconhecimento quanto ao nosso trabalho e uma atitude meio "preciso de um dinheiro, vou fazer tradução como bico".
Porém, acho que aquelas pessoas que entram na tradução para fazer bico logo descobrem que não é bem assim. E só ficam aquelas que realmente pegam gosto pela coisa e resolvem investir.
Por outro lado, senti de algumas pessoas uma certa admiração pelo ofício de tradutor. Talvez por eu vir de uma faculdade de jornalismo, ter trabalhado em livraria... ou seja, tenho muitos amigos da área das letras. Eles me elogiam pela profissão e sempre acham muito bacana. Alguns até acabam pedindo dicas de como começar.
Um amigo meu exclamou "que luxo" quando eu disse que tinha virado tradutora (não nos víamos desde a faculdade de jornalismo).
Assim, eu acho que quem caminha entre textos e livros sabe a verdadeira importância do tradutor.
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ana
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Post by ana on Aug 23, 2012 17:04:42 GMT -3
Acho que o colega Abdalan tocou em pontos importantes. Em geral, sim, a tal 'invisibilidade' se confunde com 'texto fluente', ou que 'não pareça tradução', o que volta ao ponto: o original é o 'sagrado' e sempre melhor do que a tradução (altamente discutível). Mas eu não faço tradução literária, então não tenho experiência nessa área. Todavia, pergunto: como traduzir um Guimarães Rosa ? È possível ser 'fluente/invisível' até que ponto? As adaptações a outros idiomas/contextos serão sempre o produto da 'escolha' do tradutor, e os critérios de avaliação de 'qualidade' serão sempre subjetivos, em sua maioria.
O PH Brito fez uma boa descrição do desenvolvimento da profissão e dos estudos na área nos últimos anos. Acho que a questão de 'boa tradução ajuda a vender mais' é muito discutível, afinal, existe um trabalho de marketing violento em alguns casos e isso é que promove a venda, muito mais do que a qualidade do texto traduzido, creio eu.
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Post by Malu Cumo on Aug 24, 2012 21:15:06 GMT -3
1) Por que a invisibilidade se "confunde" com o texto fluente? Entendo a invisibilidade como texto fluente e fiel ao original. 2) Para mim, o original é sagrado é o que preciso transmitir, o mais perto possível, sem adaptações de realidade, ou se torna outra obra. Quem vai ler quer saber o que o autor escreveu, ou iria atrás de um livro do tradutor. Na verdade, tenho uma parte da minha biblioteca reservada para traduções, seja de tradutores que admiro, seja de boas traduções. É como um estudo. Do que escreve PHB, infelizmente, discordo quando diz que a boa tradução ajuda a vender livro. Quantos livros com português infeliz e sucesso de vendas já encontrei. Estão jogados no que se pode chamar de porão com a esperança de mofarem e ninguém conseguir ler.
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Post by Patricia Moura e Souza on Aug 24, 2012 23:33:05 GMT -3
Malu, acho que a invisibilidade tem mais a ver com a fluência porque na leitura o leitor não tem acesso ao original, portanto um possível desvio do sentido pretendido pelo autor não chama a atenção do leitor para o tradutor. Assim, mesmo que ele não seja muito fiel ao original, se o texto traduzido for convincente na língua de chegada, o leitor lê, do começo ao fim, sem pensar no tradutor. O que não quer dizer que somente a fluência no texto seja desejável, não quer dizer que a fidelidade não seja importante. Invisibilidade não é sinônimo de qualidade, e sim um aspecto possível dela. O que você acha?
Por outro lado, quanto à qualidade da tradução não influenciar as vendas, concordo até certo ponto. Acho que a boa tradução deve, sim, aumentar as vendas, mas esse aumento provavelmente seja desprezível no balanço financeiro da editora. É provável que auto-ajuda venda exatamente a mesma coisa com uma tradução medíocre ou primorosa, mas deve haver um público (nem que sejamos só nós e os professores de português) que valoriza uma edição pela tradução. Agora, quanto isso pesa no sucesso ou fracasso da obra? Realmente deve ser pouco.
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Post by Adriana Faria on Aug 25, 2012 11:21:20 GMT -3
Puxa, esperei chegar o fim de semana para comentar sobre o texto e vejo que a conversa já vai longe! O que mais chamou minha atenção no texto do Britto é o tema "direitos autorais". Eu estava ansiosa para que a discussão começasse e assim eu pudesse fazer minha pergunta aos mais experientes do grupo: quantos de vocês já trabalharam desta forma? A Luciana Chagas tocou no assunto com uma visão diferente, que eu desconhecia: "- Pagamento de direitos autorais com base no valor de capa/vendas X contrato de cessão de direitos. Quantos de nós recusamos uma tradução em razão da obrigatoriedade de assinatura do tal contrato?" Ao ler o texto, parece-me que a intenção do autor é chamar a atenção para o contrário (por favor, corrijam-me se eu estiver errada!). Ao não vincular o trabalho do tradutor ao direito autoral, as editoras estão diminuindo a importância de tal trabalho. Vejo o direito autoral do tradutor como um reconhecimento de seu trabalho e a possibilidade de tornar-se mais visível e reconhecido como tal.
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Post by mariana on Aug 25, 2012 12:24:23 GMT -3
Nossa, quanta coisa! Achei muito interessante e rendeu bastante material para refletir! Concordo com os colegas sobre a invisibilidade na tradução e refletindo percebi que (tirando dentro do próprio meio de tradução) nunca ouvi alguém elogiar um livro pela sua tradução e sim apenas elencar os possíveis erros nela.. Foi novidade refletir também sobre como o trabalho de tradução foi otimizado, porém o valor do serviço continua o mesmo, ou seja, há mais produção pelo mesmo preço.
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Post by Malu Cumo on Aug 25, 2012 12:36:04 GMT -3
Olá, Patrícia, concordo que o leitor possa aceitar qualquer coisa, por não ter acesso ao original, mas aí é traição! Como discussão filosófica, para mim, o ideal é o respeito total ao original, com o que eu possa pensar que sejam erros, ou erros reais mesmos, isso não me diz respeito. O meu trabalho é traduzir o que foi escrito procurando ser o mais fiel possível, como respeito ao autor e ao leitor. Divagando um pouco, é como os autores que são considerados mais agradáveis quando traduzidos. Acho que isso não deveria acontecer. Daí me vem a convicção de que, conhecendo bem o idioma de chegada, o tradutor "nativo" é um mito. Sim, é necessária a revisão do nativo, claro. Se é difícil conhecer todos os "walks of life" da própria língua, imagine de outrem! Isso serve para os dois lados, tanto para o idioma de partida, quanto para o de chegada. Sempre de literatura falando O ideal seriam sempre dois, acredito. Se posso me alongar um pouco mais nas minhas convicções, o trabalho dos irmãos Campos é outra coisa, não tradução, ou uma outra vertente, mais inspirada, poética, iluminada, que não é a minha. Como gosto de ler, ganho muitos livros e cada tradução me aparece! O português, coitado... É só a minha experiência pessoal. Não compro pela internet livro traduzido, se não conheço o tradutor ao menos. Preciso ler um pouco.
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Post by santanna on Aug 26, 2012 1:27:44 GMT -3
Interessantíssimas colocações. Importantíssimo distinguir invisibilidade de aonimato. Mas não seriam até certo ponto anônimos os restauradores, p. ex? Será o nicho o que define que seu trabalho seja mais valorizado? O fato de uma obra de arte ser única? Ser comumente valiosa? Ter seu valor previamente avaliado, o que não ocorreria com uma vendagem hipotética de livros, p. ex? Pois se há poucos leitores no BR - proporcionalmente - não haverá editores e PMs a quem se possa dizer incultos e desconhecedores da complexidade do processo tradutório, haverá? Esta última seria uma provável resposta ao enigma da falta de reconhecimento. Ou não? Interessante ainda recordar Venutti - me ocorreu a confrontação do conceito de transparência com o de invisibilidade - será que cabe a comparação?, segundo trecho de trabalho acadêmico disponível em www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/mestletras/DISSERTACOES_2/a_arte.pdf"Para ele, a estética popular atual requer traduções fluentes que produzam um efeito ilusório de transparência, e isso significa aderir ao dialeto padrão corrente, ao evitar qualquer dialeto, registro ou estilo que chame a atenção de palavras como palavras e, portanto, que frustre a identificação do leitor. Como resultado, a tradução fluente pode capacitar um texto estrangeiro a envolver uma massa de leitores, mesmo um texto de uma literatura estrangeira excluída, e desse modo iniciar uma reformulação significativa do cânone. Venuti faz críticas duras a tradutores que adequam o texto à língua de chegada – a chamada domesticação – que pode ser entendida como a tradução que promove uma adaptação da obra estrangeira para o universo da língua-alvo, retirando-lhe as características peculiares e apagando as diferenças lingüísticas, de modo que o leitor sinta-se “familiarizado” com aquela obra. Tal processo acarretaria distorções semânticas e a conseqüente perda de traços culturais presentes no texto de origem. Desse modo, uma tradução realizada seguindo tais parâmetros seria perfeitamente classificada – principalmente no que diz respeito à escolha das obras a serem traduzidas - como um “produto” da já citada indústria cultural. "Segundo Venuti, a tradução estrangeirizante pode ser vista como uma forma de resistência contra o etnocentrismo e o racismo, o narcisismo cultural e o imperialismo, nos interesses das relações geopolíticas democráticas. Ao realizar uma tradução nesses moldes, o tradutor transporta o leitor para outro país, ou seja, não se tem uma representação transparente da cultura fonte, e sim a manifestação dos valores divergentes que podem levar a uma discussão dos próprios valores domésticos." Att., Karla
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